O envolvimento do Dalai Lama com a CIA e com as guerrilhas tibetanas

De todas as mentiras que rodeam o Dalai Lama, com certeza a maior de todas é de que ele é o campeão da não vilência. Esse aspecto da imagem que ele gosta de pintar de si mesmo e com a qual ele seduziu a mídia e grande parte do mundo é, na verdade, somente outro aspecto do mito.

O certo é que, desde meados dos anos 1950 até os anos 1970, existiu um ativo e violento movimento de resistência tibetana que foi criado pela CIA.297 Inclusive o notório irmão do Dalai Lama, Gyalo Dondrup, que era a conexão principal entre a guerrilha tibetana e a CIA, chamou isso de um “negócio muito sujo”298. A pergunta é: quão envolvido o Dalai Lama estava com esse negócio muito sujo?

Em 1974, o Dalai Lama declarou: “A acusação da ajuda da CIA não tem nenhum fundamento”299. Porém, gradualmente, à medida que mais e mais documentos do Departamento de Estado dos EUA foram divulgados, ele se viu obrigado a admitir a verdade.

Em 1999, ao falar sobre as antigas operações da CIA envolvendo seu povo, ele disse: “Eles deram a entender que quando eu chegasse à Índia, haveria uma grande ajuda vinda dos Estados Unidos”300. A CIA providenciou anualmente o montante de 1,7 milhões de dólares para treinar e manter as guerrilhas, inclusive criando campos de treinamento nos EUA (Camp Hale, Colorado) e em outros lugares, fazendo transporte aéreo das guerrilhas para lá e levando-as ao Tibete por meio de paraquedas, providenciando armas, equipamento e espionagem301. O Dalai Lama em pessoa recebia anualmente $180.000 para se sustentar na Índia, uma subvenção para a qual não tinha que dar satisfação a ninguém302.

O motivo pelo qual o Dalai Lama criou tantas expectativas pode muito bem ter sido a carta enviada a ele pelo embaixador dos Estados Unidos para a Índia, Loy Henderson, em 1951. Henderson estava encaminhando uma mensagem do Departamento de Estado que dizia, dentre outras coisas:

Os Estados Unidos (…) estão preparados para apoiar a resistência agora e no futuro contra a agressão comunista no Tibete e providenciar tanta ajuda material quanto for possível.303

De fato, como documentos da CIA descobertos depois do Ato de Liberdade de Informação revelam, quando o Dalai Lama finalmente deixou o Tibete, uma das primeiras mensagens enviadas aos americanos requisitava um suprimento aéreo de quantidades substanciais de armas:

Por favor, informem ao mundo sobre o sofrimento do povo tibetano. Para nos libertar do suplício das operações dos comunistas chineses, [vocês] precisam nos ajudar o mais rapidamente possível e nos enviar armas para 30.000 homens por avião.304

O Dalai Lama esforçou-se para ocultar o grau de envolvimento da CIA no Tibete e seu próprio envolvimento com a CIA. Thomas Laird relembra como o Dalai Lama ficou apreensivo quando lhe explicou que iria publicar um livro revelando a época em que a atividade da CIA começou no Tibete.

O Dalai Lama expressou preocupação quando fiz a entrevista para o livro. Ele se perguntava se ao revelar a presença americana encoberta no Tibete em 1950 forneceria aos chineses uma desculpa para sua invasão. Afinal, quando a China invadiu o Tibete, em 1950, disse que seu motivo era parar a trama imperialista dos agentes americanos no Tibete. Naquela época, os EUA negavam que havia agentes americanos no Tibete anteriormente à invasão. Até agora não se duvidou dessa afirmação. Este livro prova, pela primeira vez, não somente que havia americanos no Tibete, mas que vários agentes, dentro e fora do Tibete, trabalharam ativamente para enviar ajuda militar para os tibetanos anteriormente à invasão chinesa. Ele prova que o alto escalão do governo americano estava envolvido nesse plano, mesmo que o governo tenha negado desde então.305

As intrigas militares do Dalai Lama não se limitam à CIA. Em 1962, algumas guerrilhas tibetanas tornaram-se parte das Forças Especiais de Fronteira do Exército indiano com a perspectiva de que eles seriam lançados dentro do Tibete para lutar contra os chineses. Entretanto, o Exército indiano, em vez disso, enviou-os para lutar na guerra do leste do Paquistão. Como se declara na página oficial das guerrilhas tibetanas na web:

A SFF nunca teve oportunidade de ser empregada em operações contra seus inimigos intencionados, a China Vermelha, mas foi usada contra o Paquistão do Leste com o consentimento de Sua Santidade, o Dalai Lama, em 1971.306

Depois de serem expulsas do Tibete, as guerrilhas instalaram-se em Mustang, do outro lado da fronteira, no Nepal. Por algum tempo, os nepaleses os toleraram “por esse ser o desejo do Dalai Lama”307. Porém, os contínuos ataques das guerrilhas ao exército chinês provocaram cada vez mais tensão nas relações entre o governo nepalês e a China, e finalmente o governo nepalês decidiu acabar com as guerrilhas. Por fim, em 1974, o Dalai Lama enviou uma mensagem gravada para as guerrilhas, instruindo-as a se renderem aos nepaleses.308

Anteriormente, a CIA havia ordenado às guerrilhas pararem com suas ofensivas contra os chineses, mas elas ignoraram seus comandantes americanos.309 Entretanto, tão logo o Dalai Lama lhes deu a ordem, todos, com exceção de uns poucos, entregaram suas armas.310 Se o Dalai Lama realmente quisesse uma resistência não violenta, por que ele teria esperado até 1974 para enviar sua mensagem às guerrilhas, depois de quase duas décadas de lutas durante as quais milhares de tibetanos e chineses perderam a vida em violentos combates?